Lady Holden, pequena, viva, tinha ar de boa pessoa; os olhares que lançava ao marido revelavam a harmonia que presidia à sua união. E, no entanto, apesar desta ternura mútua, eu pressentia não com menos evidência uma espécie de horror comum; no rosto da minha tia reconhecia um reflexo do pavor enraizado em sir Dominick. A conversa era alternadamente alegre e triste; mas a alegria assumia um tom forçado, ao passo que a falta de ostentação da sua tristeza informava-me que tinha ao meu lado dois corações muito preocupados.
Tínhamos acabado de jantar, os criados haviam deixado a sala depois de nos terem servido um copo de vinho do Porto, quando a nossa conversa bifurcou para um tema que produziu um efeito inesperado nos meus anfitriões. Já não me recordo de como viemos a abordar o problema do sobrenatural; em todo o caso, eu indiquei-lhes que o anormal, nas experiências psíquicas, era uma questão à qual consagrara, com numerosos neurólogos, muita atenção, e concluí contando uma aventura pessoal: na minha qualidade de membro da Sociedade de Pesquisas Psíquicas, eu fizera parte de um comité que tinha passado a noite numa casa assombrada; embora não tivesse sido nem apaixonante nem convincente, a minha aventura interessou os meus auditores ao mais alto grau. Escutaram-me sem me interromperem. Surpreendi entre eles um sinal de conivência que não soube como interpretar. Lady Holden levantou-se e deixou-nos sós.
Sir Dominick empurrou na minha direcção uma caixa de charutos. Fumámos em silêncio durante algum tempo. Quando ele levava o charuto à boca, a sua grande mão ossuda tremia. Os nervos deviam vibrar como as cordas de uma harpa. O meu instinto advertiu-me de que estava à beira de uma confidência íntima, e decidi não dizer nada, com receio de inibi-lo.