Depois, de repente, o meu cérebro recuperava toda a clareza e eu retomava a aula e terminava-a convenientemente.
Que admira, pois, que a minha conduta se tenha tornado um tema de conversa para os diversos colegas? Que admira, pois, que o senado universitário se tenha visto na obrigação de conhecer oficialmente um tal escândalo?
Ah, a diabólica mulher!
E o que há de mais terrível em tudo isto é a minha solidão.
Eis-me num banal vão de janela inglesa, que dá para uma banal rua inglesa com os seus ónibus de cores berrantes e os seus polícias errantes, e atrás de mim ergue-se uma sombra que nada tem de comum com este século, com este meio.
No centro deste país da ciência, sou esmagado, torturado por um poder do qual a ciência nada sabe.
Nenhum magistrado consentiria em escutar-me; nenhum jornal quereria discutir o meu caso. Nenhum médico admitiria os sintomas do meu estado.
Os meus amigos mais íntimos apenas veriam nisso a prova de um desarranjo cerebral.
Perdi todo o contacto com a minha espécie.
Ah, a diabólica mulher! Que tenha cuidado. Poderia muito bem fazer-me chegar longe de mais. Quando a lei nada pode fazer por nós, podemos nós fazer uma lei.
Ela encontrou-me ontem à noite na Grande Rua e falou-me. Felizmente para ela, talvez, que este encontro não tenha ocorrido entre as sebes de uma estrada solitária do campo.
Perguntou-me com o seu sorriso glacial se estava um pouco mais calmo.
Não me dignei responder-lhe.
- Vai ser necessário dar outra volta à chave de parafusos - disse ela.
Ah, tenha cuidado, mulher, tenha cuidado!
Já a tive uma vez à minha discrição.