26 de Abril. Decorreram dez dias sem que eu tivesse coragem para manter o meu diário em dia.
Porquê registar coisas que me humilham, que me degradam?
Jurei nunca mais tornar a abri-lo.
E, no entanto, tamanha é a força do hábito que aqui estou ocupado mais unia vez a anotar as minhas terríveis experiências, tal como já se viu um suicida tomar notas acerca dos efeitos do veneno que o matava.
Ora bem, a situação por mim prevista aconteceu e não mais tarde do que ontem. As autoridades universitárias retiraram-me a cátedra.
Fizeram-no da forma mais delicada, alegando que era uma medida temporária ditada pelo desejo de aliviar-me dos efeitos da sobrecarga de trabalho e de pôr-me em condições de me restabelecer. Mas a coisa não foi por isso que deixou de suceder: já não sou o professor Gilroy.
O laboratório continua sob a minha direcção, mas estou à espera de que em breve me seja igualmente retirado.
É um facto que as minhas aulas se tornaram matéria de risota para a Universidade.
O meu anfiteatro estava repleto de estudantes que vinham ver e ouvir o que ia fazer ou dizer o professor excêntrico.
Não posso entrar aqui nos pormenores da minha humilhação.
Oh!, que mulher diabólica! Não há tolice, estupidez, por completa que fosse, que ela não me haja forçado a cometer.
Começava a aula em termos claros e adequados, mas sempre com a sensação de que a minha inteligência ia sofrer um eclipse.
Então, sentindo a influência, lutava contra ela, cerrando os punhos, de suor na testa para vencê-la, enquanto os estudantes que escutavam as minhas frases incoerentes, viam as minhas contorções e riam às gargalhadas das macaquices do professor.
Depois, quando ela ficava bem senhora de mim, fazia-me dizer as coisas mais absurdas.