O Bobo - Cap. 11: XI - O subterrãneo Pág. 100 / 191

– Oh, entendo, entendo! – murmurou com uma cólera reconcentrada Gonçalo Mendes. – Medem-me por si os miseráveis! Porém, não! Eles bem sabem que lealmente eu diria à rainha: «Senhora, não será para estrangeiros meu preito, que o devo a vosso filho.» Bem sabem que à luz do meio-dia eu movera os meus pendões para a hoste de Afonso Henriques. Conspiradores covardes são eles, porque querem colher às mãos indefesas os que temem encontrar nas lides.

– Esqueceis-vos, meus nobres senhores, que tenho comigo vinte acostados, e que vinte acostados meus são sobejos para, mau grado vosso, romper larga saída por essas tão vigiadas barreiras?

– Vílico – prosseguiu ele voltando-se para Odório Fromarigues –, vai-te ao meu bairro: previne já os nossos cavaleiros que vistam imediatamente as armas; e que juntos na minha pousada vigiem das ameias as ruas em roda, porque nos ameaça uma negra traição. Eu breve serei com eles.

O tom com que o esforçado rico-homem proferira estas palavras não admitia observações: o vílico obedeceu. Apenas ele partira, Gonçalo Mendes dirigiu-se a Fr. Hilarião.

– Abade do Mosteiro de D. Muma, vós me acompanhareis. A vossa amizade para comigo pode ser-vos fatal: o conde de Trava não é homem que respeite a santidade do sacerdócio, e a vida, ou pelo menos a liberdade, vos correria grão risco se nas prevenções desta noite se esconde, como suspeito, um pensamento atroz.

– Deixai o obscuro monge – respondeu o frade – e salvai o ilustre guerreiro. Que importa a liberdade ou a vida de quem como eu já de mais tarda ao sepulcro? A morte, posto que me aterre, achar-me-á resignado. Mas o que mais temo é o vosso próprio esforço. Com vinte homens de armas que podeis fazer em Guimarães, onde Fernando Peres conta mais de mil lanças dos seus parciais?





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