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Capítulo 13: XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais

Página 123

A situação de D. Teresa, quando o trovador entrou em Guimarães, era na verdade terrível. A cólera que nessa noite transbordara do coração do conde e a sede implacável de sangue e de vingança que o devorava fizeram conhecer claramente à rainha que para Afonso Henriques não havia esperar dele nem paz nem perdão. Esta certeza avivara, enfim, na sua alma os sentimentos de mãe, sentimentos que já não podiam ser para D. Teresa senão uma nova causa de desventura. Tinha jurado perante os cavaleiros do conde sair com eles à lide e, quando ousou falar de reconciliação, o senhor de Trava com palavras de respeito hipócrita e de verdadeiro escárnio lhe recordou a promessa que tão recentemente havia feito. Subjugado pelo predomínio infernal, que nele alcançara Fernando Peres, aquele pobre coração de mulher, que cria sentir em si os brios de um coração de homem, sabia apenas despedaçar-se numa contínua alternativa de afectos. Temendo que as suas palavras revelassem ao mensageiro do infante a fraqueza materna, o filho de Pedro Froilaz lhe proibira o escutá-lo, reservando para si o rejeitar todas as proposições que não fossem as de completa obediência. Quando, porém, soube quem era o cavaleiro que trazia a mensagem, o conde não pôde deixar de sorrir da audácia insensata do mancebo. Apesar do silêncio que o generoso Garcia Bermudes guardara acerca dos amores de Dulce, o conde concebera veementes suspeitas da existência destes. A vinda de Egas a Guimarães disfarçado podia ter bem diverso motivo: mas a indiferença da filha de D. Gomes Nunes para com a paixão do alferes-mor, de um homem que aliás ela parecia prezar; a missão inútil que este dera a Tructesindo, e que o falador e inquieto pajem não tardara a relatar ao seu poderoso parente e senhor; o empalidecer de Garcia Bermudes apenas ouvira proferir o nome de Egas Moniz – tudo isto foi para ele um raio de luz. Resolveu perscrutar o efeito que a presença do cavaleiro produziria no alferes-mor. Era o modo de verificar as suas suspeitas; e por isso lhe ordenou o acompanhasse com outros filhos-d’algo à sala do conselho onde devia receber a mensagem do infante.

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pág. 123 (Capítulo 13)

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Capa do livro O Bobo
Páginas: 191
Página atual: 123

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Introdução 1
II - Dom Bibas 8
III - O Sarau 18
IV - Receios e esperanças 27
V - A madrugada 38
VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão 45
VII - O homem do zorame 59
VIII - Reconciliação 66
IX - O desafio 80
X - Generosidade 90
XI - O subterrãneo 97
XII - A mensagem 110
XIII - A boa corda de cânave de quatro ramais 123
XIV - Amor e vingança 141
XV - Conclusão 157
Apêndice 173