Alguns instantes mais que o trovador se houvera demorado no jardim pênsil lhe tornariam impossível o sair de Guimarães. Abul-Hassan tinha tido a prevenção de comunicar ao mestre dos engenhos, a seu irmão, o tornadiço, como ele lhe chamava na ausência, o lugar onde o devia encontrar no caso de ocorrer algum sucesso inesperado.
O árabe-cristão ouvira a ordem do alferes-mor para se dobrarem as vigias e roldas, lançar-se uma quadrilha ao campo, e proibir- se a saída do burgo a todos, apenas se fizesse o sinal de acabar o banquete. Então o tornadiço correra ao arco escuro do jardim pênsil, e relatara tudo isto a Abul-Hassan. O silvo do árabe, que tão cedo soara para Dulce, procedera desta causa, e por isso o cavaleiro tivera de atravessar, correndo à rédea solta, o recinto do castelo e do burgo. Passando a cárcova das barreiras, ainda vira dobrar o número dos atalaias nocturnos, e sentira o tropear dos cavalos rodeando os andaimos das barbacãs. Para se não tornar suspeitoso, depois de sair junto ao cubelo da couraça, caminhara lentamente em volta da povoação e, fazendo um largo rodeio, viera outra vez meter-se no caminho que levava à margem do Avicela, onde o esperava o seu pajem.
Ainda ele galgava no valente ginete uma senda agre e tortuosa na selva contígua ao vau do Madroa, quando sentiu a pouca distância, do lado oposto do rio, um estrupido de cavalos, os quais pareciam caminhar por entre os choupos e salgueiros que povoavam tanto uma como outra margem. Pelo ruído que faziam facilmente se conhecia que era uma numerosa cavalgada.