O Bobo - Cap. 6: VI - Como de um homenzinho se faz um homenzarão Pág. 50 / 191

Assim vigiando os passos de Gonçalo Mendes, Fernando Peres o tinha seguido de sala em sala, procurando escutar o que ele dizia nos diversos grupos de cavaleiros a que se ajuntava. Mais de uma hora havia que o conselho se apartara, e ainda o conde não tinha deixado um instante de o ver e ouvir, quando um escudeiro do Lidador, rompendo pela turba dos fidalgos, se chegou ao seu amo e lhe disse em voz baixa:

– Senhor, um peão, que afirma ser chegado há pouco da Terra Santa, pretende falar-vos e ao mui reverendo Fr. Hilarião. Diz que vos traz mensagens de amigos vossos, que ora andam em demanda do Santo Sepulcro. Um homem de sua reverência o busca por toda a parte, e eu vim entretanto avisar-vos.

– Um peão vindo da Palestina com mensagem a mim? – replicou o Lidador em voz alta. – À fé que me parece estranho caso! Não disse quem o mandava?

– Não, meu nobre senhor – respondeu o escudeiro –, nem eu me esqueci de lho perguntar: a sua resposta única foi que a vós, e só a vós, o diria.

– Bem! Talvez assim lho ordenassem.

Proferindo estas palavras, o Lidador saiu, encaminhando-se para as largas escadas que davam para o grande pátio do castelo em frente dos paços.

O conde de Trava percebera, posto que imperfeitamente, este diálogo. Um pensamento de desconfiança lhe passou pelo espírito, e o seu primeiro impulso foi continuar a seguir Gonçalo Mendes. Mas esta insistência era já demasiada e podia excitar as suspeitas do cavaleiro. Hesitava ainda entre o ir e o ficar, quando viu perto de si Tructesindo, seu sobrinho e seu pajem, filho de Veremudo, e que muito lhe queria. Deus ou o demónio era quem ali lho enviava. Uma ideia lhe ocorrera subitamente ao ver o mancebo.





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