O Bobo - Cap. 7: VII - O homem do zorame Pág. 60 / 191

Estas palavras excitaram ao mesmo tempo curiosidade e receios no espírito de Gonçalo Mendes; e quebrando rapidamente o fio negro entregou a carta a Fr. Hilarião, dizendo-lhe:

– Como a vós vem também a mensagem, lereis esses riscos pretos que aí estão. Por minha boa espada! cousa é que nunca entendi.

Não era raridade: quase toda a fidalguia de então se podia gabar de outro tanto.

Fr. Hilarião desenrolou o pequeno pergaminho e começou a ler. Entretanto o Lidador fitou os olhos no peão, cuja voz lhe pareceu ter já muitas vezes ouvido.

– Pobre mancebo! – exclamou o abade, trémulo e empalidecendo.

– Quem? – interrompeu Gonçalo Mendes voltando-se para ele sobressaltado.

– Um cavaleiro – replicou Fr. Hilarião – que amei como filho; e que o desejo de oferecer à dama que requestava um nome glorioso levou à Palestina. Só talvez eu soube a causa da sua partida, de que muitas vezes tentei dissuadi-lo; porque previa o que sucedeu. Oh, que enquanto o pobre trovador assim morria por Dulce, ela folgava em seus novos amores com Garcia Bermudes. – Mulheres, mulheres!

– Egas Moniz é, pois, morto? – interrompeu tristemente o Lidador, que das palavras do abade conhecera de quem era a carta. – Mensageiro, que dizes tu? Sabes certo que é finado?

Um gemido involuntário do peão, que recuara ouvindo as palavras do abade, fora a causa desta pergunta.

– Digo-vos, senhor – tornou o peão com voz afogada – que ora é ele morto.

Mas o cavaleiro não reparou na sua perturbação: o monge começava a ler alto o pergaminho que tinha nas mãos. A mágoa do Lidador era profunda; porque a sua afeição por Egas fora constante e sincera. Pôs-se a escutá-lo, e, bem como ao velho Fr. Hilarião, as lágrimas lhe rolaram pelas faces.





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