O Bobo - Cap. 7: VII - O homem do zorame Pág. 65 / 191

O mancebo ficou por algum tempo pensativo e murmurou:

– Cumprir-se-á meu destino! – Depois voltando-se para o abade disse-lhe: – Ficai tranquilo, bom Fr. Hilarião, esta mesma noite sairei de Guimarães.

– E breve! – acudiu o Lidador. – O esforço não exclui a prudência. Se todavia alguém tentar embargar-te os passos, não te esqueças de que Gonçalo Mendes está aqui, e que tem consigo vinte escudeiros valentes.

Neste instante as trombetas tocavam pelos eirados do paço e pelos adarves do castelo, e ouviam-se romper da banda da sala de armas os sons ásperos e vibrantes das charamelas.

– É o sinal de que começa o banquete – notou o abade, a quem semelhantes sons eram suaves, ainda nas maiores angústias. – É necessário apresentarmo-nos a tempo, para não causarmos suspeitas.

Egas apertou a mão ao Lidador, abraçou o monge, e, puxando o capuz do zorame para diante, seguiu ao longo da viela, enquanto os dois retrocediam e se encaminhavam para a escada principal do palácio, com passos lentos e conversando em voz baixa. Antes de chegarem acima, viram passar por eles um pajem galgando os degraus quatro a quatro e rindo como um perdido.

– Estes rapazes são doidos! – disse o monge para o seu companheiro de modo que o pajem o ouvisse.

Este olhou para trás, fitou os olhos em Fr. Hilarião com gravidade cómica, e deu uma gargalhada, continuando a galgar a escadaria.

Era Tructesindo.





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