O Bobo - Cap. 11: XI - O subterrãneo Pág. 98 / 191

No momento em que parou, Gonçalo Mendes viu ao pé de si um indivíduo, que ele supunha já bem longe de Guimarães.

– Como assim, Odório Fromarigues?! Há mais de uma hora que devíeis ter partido para a terra da Maia. Os anos, meu amo, têm-vos tornado os pés tardos.

A pessoa a quem o Lidador dirigia estas palavras era um velho, pequeno de corpo, magro, olhos como duas ervilhacas, e tez semelhante a um pergaminho de sete séculos amarrotado. Trazia vestido um lorigão negro, e na cabeça um camalho, que, cobrindo-lhe o pescoço até os ombros e circundando-lhe o rosto como a toalha de uma freira, apenas lhe deixava este visível. Aquele trajo militar era o de um simples homem de armas ou acostado de rico-homem; porque o arnês de solhas e o elmo ou capelo de ferro brunido ainda eram armadura demasiado custosa para os que, pelo menos, não pertenciam à classe dos simples cavaleiros.

A resposta do velho às palavras de Gonçalo Mendes, nas quais, posto que proferidas em tom submisso, transluzia o despeito, foi pôr o dedo na boca, fazer-lhe sinal que o seguisse, e encaminhar-se para um dos recantos do pátio onde a escuridade parecia mais profunda.

Odório Fromarigues era o vílico do solar da Maia. O vílico do século XII, quer o fosse do rei, conde, ou senhor supremo, quer de um vassalo poderoso, correspondia não só ao moderno administrador ou mordomo de rico fidalgo, mas também representava a autoridade administrativa e ainda em certos casos a judicial, dentro dos limites da honra, préstamo ou senhorio respectivo. Era ele quem por via de regra fazia o alardo, e muitas vezes capitaneava na guerra os peões, besteiros, frecheiros e fundeiros, e na ausência do senhor fazia as suas vezes em todos os lugares, salvo nos castelos ou castros, onde ao alcaide ou tenente tocavam em grande parte as atribuições do vílico.





Os capítulos deste livro