— Ora, Nhã Pombinha... tinha-lhe um servicinho a pedir... mas vosmecezinha anda agora tão tomada com o seu enxoval e não há de querer dar-se a maços... 
— Que queres tu, Bruno? 
— N’é nada, é que precisava que vosmecezinha me fizesse uma carta p’raquele diabo... mas já se vê que não tem cabimento... Fica pr’ao depois! 
— Uma carta para tua mulher, não é? 
— Coitada! É mais doida do que ruim! Pois se a gente até dos brutos tem pena!... 
— Pois estás servido. Queres para já? 
— Não vale estorvar! Continue seu servicinho! Eu volto pr’outra vez!... 
— Não! anda cá, entra! O que se tem de fazer, faz-se logo! 
— Deus lhe pague! Vosmecezinha é mesmo um anjo! Não sei a quem se chegue a gente ao depois que já lhe não tivermos cá!... 
E continuou a louvar a bondade da rapariga, enquanto esta, toda serviçal, preparava numa mesinha redonda os seus apetrechos de escrita. 
— Vamos lá, Bruno! que queres tu mandar dizer à Leocádia? 
— Diga-lhe, antes de mais nada, que aquilo que quebrei dela, que dou outro! Que ela fez mal em quebrar também o que era meu, mas que fecho os olhos! Águas passadas não movem moinho! Que sei que ela agora está desempregada e aos paus; que está a dever para mais de mês na estalagem; mas que não precisa dar cabeçadas: que me mande cá o senhorio, que me entendo com ele. Que acho bom que ela deixe a casa da crioula onde come, porque a mulher já se queixou e já disse, a quem quis ouvir, que aquilo lá não era ponto de vadios e mulheres de má vida! Que ela, se tivesse um pouco de tino, nem precisava estar às migalhas dos outros, que eu na forja fazia para a trazer de barriga cheia e mais aos filhos que Deus mandasse... — Principiava a tomar calor. — Que a culpada de tudo isto é só ela e mais ninguém! tivesse um bocado de juízo e não precisava envergonhar a cara por ai... 
— Isso já está dito, Bruno! 
— Pois arrame-lhe outra vez a ver se ela toma brio! 
— E que mais? 
— Que lhe não quero mal, nem lhe rogo pragas, mas que é bem feito que ela amargue um pouco do pão do diabo, pra ficar