Simão fitava os olhos chamejantes nos do ferrador, e Mariana exclamara, ajuntando as mãos sobre o seio:
– Meu pai, não lhe dê esses conselhos!…
– Cala-te aí, rapariga! – disse mestre João. – Vai tirar o albardão à égua, amanta-a, bota-lhe seco. Não és aqui chamada.
– Não vá aflita, senhora Mariana – disse Simão à moça, que se retirava amargurada. – Eu não aproveito algum dos conselhos de seu pai. Ouço-o com boa vontade, porque sei que quer o meu bem; mas hei-de fazer o que a honra e o coração me aconselharem.
Ao anoitecer, Simão, como estivesse sozinho, escreveu uma longa carta, da qual extractamos os seguintes períodos: «Considero-te perdida, Teresa. O sol de amanhã pode ser que eu
o não veja. Tudo, em volta de mim, tem uma cor de morte. Parece que o frio da minha sepultura me está passando o sangue e os ossos.
Não posso ser o que tu querias que eu fosse. A minha paixão não se conforma com a desgraça. Eras a minha vida: tinha a certeza de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o receio de perder-te me mata. O que me resta do passado é a coragem de ir buscar uma morte digna de mim e de ti. Se tens força para uma agonia lenta, eu não posso com ela.
Poderia viver com a paixão infeliz; mas este rancor sem vingança é um inferno. Não hei-de dar barata a vida, não. Ficarás sem mim, Teresa; mas não haverá aí um infame que te persiga depois da minha morte. Tenho ciúmes de todas as tuas horas. Hás-de pensar com muita saudade no teu esposo do Céu, e nunca tirarás de mim os olhos da tua alma para veres ao pé de ti o miserável que nos matou a realidade de tantas esperanças formosas.