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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 73

A filha do ferrador deu o recado, e sem alteração de palavra. Simão escutara-a placidamente até ao ponto em que lhe ela disse que o primo Baltasar a acompanhava ao Porto.

– O primo Baltasar!… – murmurou ele com um sorriso sinistro.

– Sempre este primo Baltasar cavando a sua sepultura e a minha!…

– A sua, fidalgo?! – exclamou João da Cruz. – Morra ele, que o levem trinta milhões de diabos! Mas vossa senhoria há-de viver enquanto eu for João. Deixe-a ir para o Porto, que não tem perigo no convento. De hora a hora Deus melhora. O senhor doutor vai para Coimbra, está por lá algum tempo, e às duas por três, quando o velho mal se precatar, a fidalguinha engrampa-o, e é sua tão certo como esta luz que nos alumia.

– Eu hei-de vê-la antes de partir para Coimbra – disse Simão.

– Olhe que ela recomendou-me muito que não fosse lá – acudiu Mariana.

– Por causa do primo? – tornou o académico ironicamente.

– Acho que sim, e por talvez não servir de nada lá ir vossa senhoria – respondeu timidamente a moça.

– Lá, se quer – bradou mestre João – a mulher, vai-se-lhe tirar ao caminho. Não tem mais que dizer.

– Meu pai, não meta este senhor em maiores trabalhos! – disse Mariana.

– Não tem dúvida, menina – atalhou Simão –, eu é que não quero meter ninguém em trabalhos. Com a minha desgraça, por maior que ela seja, hei-de eu lutar sozinho.

João da Cruz, assumindo uma gravidade de que a sua figura raras vezes se enobrecia, disse:

– Senhor Simão, vossa senhoria não sabe nada do mundo. Não meta sozinho a cabeça aos trabalhos, que eles, como o outro que diz, quando pegam de ensarilhar um homem, não lhe deixam tomar fôlego. Eu sou um rústico; mas, a bem dizer, estou naquela daquele que dizia que o mal dos seus burrinhos o fizera alveitar. Paixões… que as leve o diabo, e mais quem com elas engorda. Por causa de uma mulher, ainda que ela seja filha do rei, não se há-de um homem botar a perder. Mulheres há tantas como a praga, e são como as rãs do charco, que mergulha uma, e aparecem quatro à tona da água. Um homem rico e fidalgo como vossa senhoria onde quer topa uma com palmo de cara como se quer, e um dote de encher o olho.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 73

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139