Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: Capítulo 11

Página 75

Tu verás esta carta quando eu estiver num outro mundo, esperando as orações das tuas lágrimas. As orações! Admiro-me desta faísca de fé que me alumia nas minhas trevas!… Tu deras-me com o amor a religião, Teresa. Ainda creio; não se apaga a luz que é tua; mas a providência divina desamparou-me.

Lembra-te de mim. Vive, para explicares ao mundo, com a tua lealdade a uma sombra, a razão por que me atraíste a um abismo. Escutarás com glória a voz do mundo, dizendo que eras digna de mim.

À hora em que leres esta carta…»

Não o deixaram continuar as lágrimas, nem depois a presença de Mariana. Vinha ela pôr a mesa para a ceia, e, quando desdobrava a toalha, disse em voz abafada, como se a si mesma somente o dissesse:

– É a última vez que ponho a mesa ao senhor Simão em minha casa!

– Porque diz isso, Mariana?

– Porque mo diz o coração.

Desta vez, o académico ponderou supersticiosamente os ditames do coração da moça, e com o silêncio meditativo deu-lhe a ela a evidência antecipada do vaticínio.

Quando voltou com a travessa da galinha, vinha chorando a filha de João da Cruz.

– Chora com pena de mim, Mariana? – disse Simão enternecido.

– Choro, porque me parece que o não tornarei a ver; ou, se o vir, será de modo que oxalá que eu morresse antes de o ver.

– Não será, talvez, assim, minha amiga…

– Vossa senhoria não me faz uma coisa que eu lhe peço?…

– Veremos o que pede, menina.

– Não saia esta noite, nem amanhã.

– Pede o impossível, Mariana. Hei-de sair, porque me mataria, se não saísse.

– Então perdoe a minha ousadia. Deus o tenha da Sua mão.

A rapariga foi contar ao pai as intenções do académico. Acudiu logo mestre João combatendo a ideia da saída, com encarecer os perigos do ferimento. Depois, como não conseguisse dissuadi-lo, resolveu acompanhá-lo. Simão agradeceu a companhia, mas rejeitou-a com decisão. O ferrador não cedia do propósito, e estava já preparando a clavina, e arraçoando com medida dobrada a égua – para o que desse e viesse – dizia ele, quando o estudante lhe disse que, melhor avisado, resolvera não ir a Viseu, e seguir Teresa ao Porto, passados os dias da convalescença.

<< Página Anterior

pág. 75 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 75

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139