Amor de Perdição - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 78 / 145

Abriu-se novamente a portaria, e saíram as três senhoras, e após elas Teresa. Tadeu enxugou as lágrimas, e deu alguns passos a saudar a filha, que não ergueu do chão os olhos.

– Teresa… – disse o velho.

– Aqui estou, senhor – respondeu a filha, sem o encarar.

– Ainda é tempo – tornou Albuquerque.

– Tempo de quê?

– Tempo de seres boa filha.

– Não me acusa a consciência de o não ser.

– Ainda mais?!… Queres ir para tua casa, e esquecer o maldito que nos fez a todos desgraçados?

– Não, meu pai. O meu destino é o convento. Esquecê-lo nem por morte. Serei filha desobediente, mas mentirosa é que nunca.

Teresa, circunvagando os olhos, viu Baltasar, e estremeceu, exclamando:

– Nem aqui!

– Fala comigo, prima Teresa? – disse Baltasar, risonho.

– Consigo falo! Nem aqui me deixa a sua odiosa presença?

– Sou um dos criados que minha prima leva em sua companhia. Dois tinha eu há dias, dignos de acompanharem a minha prima; mas esses houve aí um assassino que mos matou. À falta deles, sou eu que me ofereço.

– Dispenso-o da delicadeza – atalhou Teresa com veemência.

– Eu é que não me dispenso de a servir, à falta dos meus dois fiéis criados, que um celerado me matou.

– Assim devia ser – tornou ela também irónica –, porque os covardes escondem-se nas costas dos criados que se deixam matar.

– Ainda se não fizeram as contas finais… minha querida prima – redarguiu o morgado.

Este diálogo correu rapidamente, enquanto Tadeu de Albuquerque cortejava a prioresa e outras religiosas. As quatro senhoras, seguidas de Baltasar, tinham saído do átrio do convento, e deram de rosto em Simão Botelho, encostado à esquina da rua fronteira.

Teresa viu-o… adivinhou-o, primeiro de todas, e exclamou…

– Simão!…

O filho do corregedor não se moveu.

Baltasar, espavorido do encontro, fitando os olhos nele, duvidava ainda.

– É incrível que este infame aqui viesse! – exclamou o de Castro Daire.





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