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Capítulo 11: Capítulo 11

Página 77

Às quatro horas e um quarto, acordou a natureza toda em hinos e aclamações ao radiar da alva. Os passarinhos trinavam na cerca do mosteiro melodias interrompidas pelo toque solene das ave--marias na torre. O horizonte passara de escarlate a alvacento. A púrpura da aurora, como lavareda enorme, desfizera-se em partículas de luz, que ondeavam no declive das montanhas, e se distendiam nas planícies e nas várzeas, como se o anjo do Senhor, à voz de Deus, viesse desenrolando aos olhos da criatura as maravilhas do repontar dum dia estivo.

E nenhuma destas galas do Céu e da Terra enlevava os olhos do moço poeta!

Às quatro horas e meia, ouviu Simão o tinido de liteiras, dirigindo-se àquele ponto. Mudou de local, tomando por uma rua estreita, fronteira ao convento.

Pararam as liteiras vazias na portaria, e logo depois chegaram três senhoras vestidas de jornada, que deviam ser as irmãs de Baltasar, acompanhadas de dois mochilas com as mulas à rédea. As damas foram sentar-se nos bancos de pedra, laterais à portaria. Em seguida abriu-se a grossa porta, rangendo nos gonzos, e as três senhoras entraram.

Momentos depois, viu Simão chegar à portaria Tadeu de Albuquerque, encostado ao braço de Baltasar Coutinho. O velho denotava quebranto e desfalecimento. O de Castro Daire, bem composto de figura e caprichosamente vestido à castelhana, gesticulava com aprumo de quem dá as suas irrefutáveis razões, e consola tomando a riso a dor alheia.

– Nada de lamúrias, meu tio! – dizia ele. – Desgraça seria vê-la casada! Eu prometo-lhe antes de um ano restituir-lha curada. Um ano de convento é um óptimo vomitório do coração. Não há nada como isso para limpar o sarro do vício em corações de meninas criadas à discrição. Se meu tio a obrigasse, desde menina, a uma obediência cega, tê-la-ia agora submissa, e ela não se julgaria autorizada a escolher marido.

– Era uma filha única, Baltasar! – dizia o velho, soluçando.

– Pois por isso mesmo – replicou o sobrinho. – Se tivesse outra, ser-lhe-ia menos sensível a perda, e menos funesta a desobediência. Faria a sua casa na filha mais querida, embora tivesse de impetrar uma licença régia para deserdar a primogénita. Assim, agora, não lhe vejo outro remédio senão empregar o cautério à chaga; com emplastros é que não se faz nada.

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 77

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139