– Infame… eu! e porquê?
– Infame, e infame assassino! – replicou Baltasar. – Já fora da minha presença!
– É parvo este homem! – disse o académico. – Eu não discuto com sua senhoria… Minha senhora – disse ele a Teresa com a voz comovida e o semblante alterado unicamente pelos afectos do coração, – sofra com resignação, da qual eu lhe estou dando um exemplo. Leve a sua cruz, sem amaldiçoar a violência, e bem pode ser que a meio do seu calvário a misericórdia divina lhe redobre as forças.
– Que diz este patife?! – exclamou Tadeu.
– Vem aqui insultá-lo, meu tio! – respondeu Baltasar. – Tem a petulância de se apresentar a sua filha a confortá-la na sua malvadez! Isto é de mais! Olhe que eu esmago-o aqui, seu vilão!
– Vilão é o desgraçado que me ameaça, sem ousar avançar para mim um passo – redarguiu o filho do corregedor.
– Eu não o tenho feito – exclamou, enfurecido Baltasar – por entender que me avilto, castigando-o, na presença de criados de meu tio, que tu podes supor meus defensores, canalha!
– Se assim é – tornou Simão, sorrindo –, espero nunca me encontrar de rosto com sua senhoria. Reputo-o tão covarde, tão sem dignidade, que o hei-de mandar azorragar pelo primeiro mariola das esquinas.
Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa.
Tadeu de Albuquerque gritava a altos brados. Os liteireiros e criados rodearam Simão, que conservava o dedo no gatilho da outra pistola. Animados uns pelos outros e pelos brados do velho, iam lançar-se ao homicida, com risco de vida, quando um homem, com um lenço pela cara, correu da rua fronteira, e se colocou de bacamarte aperrado, à beira de Simão. Estacaram os homens.
– Fuja, que a égua está ao cabo da rua – disse o ferrador ao seu hóspede.