Amor de Perdição - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 79 / 145

Simão deu alguns passos, e disse placidamente:

– Infame… eu! e porquê?

– Infame, e infame assassino! – replicou Baltasar. – Já fora da minha presença!

– É parvo este homem! – disse o académico. – Eu não discuto com sua senhoria… Minha senhora – disse ele a Teresa com a voz comovida e o semblante alterado unicamente pelos afectos do coração, – sofra com resignação, da qual eu lhe estou dando um exemplo. Leve a sua cruz, sem amaldiçoar a violência, e bem pode ser que a meio do seu calvário a misericórdia divina lhe redobre as forças.

– Que diz este patife?! – exclamou Tadeu.

– Vem aqui insultá-lo, meu tio! – respondeu Baltasar. – Tem a petulância de se apresentar a sua filha a confortá-la na sua malvadez! Isto é de mais! Olhe que eu esmago-o aqui, seu vilão!

– Vilão é o desgraçado que me ameaça, sem ousar avançar para mim um passo – redarguiu o filho do corregedor.

– Eu não o tenho feito – exclamou, enfurecido Baltasar – por entender que me avilto, castigando-o, na presença de criados de meu tio, que tu podes supor meus defensores, canalha!

– Se assim é – tornou Simão, sorrindo –, espero nunca me encontrar de rosto com sua senhoria. Reputo-o tão covarde, tão sem dignidade, que o hei-de mandar azorragar pelo primeiro mariola das esquinas.

Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão. Chegou a apertar-lhe a garganta nas mãos; mas depressa perdeu o vigor dos dedos. Quando as damas chegaram a interpor-se entre os dois, Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma bala, que lhe entrara na fronte. Vacilou um segundo, e caiu desamparado aos pés de Teresa.

Tadeu de Albuquerque gritava a altos brados. Os liteireiros e criados rodearam Simão, que conservava o dedo no gatilho da outra pistola. Animados uns pelos outros e pelos brados do velho, iam lançar-se ao homicida, com risco de vida, quando um homem, com um lenço pela cara, correu da rua fronteira, e se colocou de bacamarte aperrado, à beira de Simão. Estacaram os homens.

– Fuja, que a égua está ao cabo da rua – disse o ferrador ao seu hóspede.





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