Abriu-se novamente a portaria, e saíram as três senhoras, e após elas Teresa. Tadeu enxugou as lágrimas, e deu alguns passos a saudar a filha, que não ergueu do chão os olhos.
– Teresa… – disse o velho.
– Aqui estou, senhor – respondeu a filha, sem o encarar.
– Ainda é tempo – tornou Albuquerque.
– Tempo de quê?
– Tempo de seres boa filha.
– Não me acusa a consciência de o não ser.
– Ainda mais?!… Queres ir para tua casa, e esquecer o maldito que nos fez a todos desgraçados?
– Não, meu pai. O meu destino é o convento. Esquecê-lo nem por morte. Serei filha desobediente, mas mentirosa é que nunca.
Teresa, circunvagando os olhos, viu Baltasar, e estremeceu, exclamando:
– Nem aqui!
– Fala comigo, prima Teresa? – disse Baltasar, risonho.
– Consigo falo! Nem aqui me deixa a sua odiosa presença?
– Sou um dos criados que minha prima leva em sua companhia. Dois tinha eu há dias, dignos de acompanharem a minha prima; mas esses houve aí um assassino que mos matou. À falta deles, sou eu que me ofereço.
– Dispenso-o da delicadeza – atalhou Teresa com veemência.
– Eu é que não me dispenso de a servir, à falta dos meus dois fiéis criados, que um celerado me matou.
– Assim devia ser – tornou ela também irónica –, porque os covardes escondem-se nas costas dos criados que se deixam matar.
– Ainda se não fizeram as contas finais… minha querida prima – redarguiu o morgado.
Este diálogo correu rapidamente, enquanto Tadeu de Albuquerque cortejava a prioresa e outras religiosas. As quatro senhoras, seguidas de Baltasar, tinham saído do átrio do convento, e deram de rosto em Simão Botelho, encostado à esquina da rua fronteira.
Teresa viu-o… adivinhou-o, primeiro de todas, e exclamou…
– Simão!…
O filho do corregedor não se moveu.
Baltasar, espavorido do encontro, fitando os olhos nele, duvidava ainda.
– É incrível que este infame aqui viesse! – exclamou o de Castro Daire.