Coração, Cabeça e Estômago - Cap. 6: CAPÍTULO II - PÁGINAS SÉRIAS DA MINHA VIDA Pág. 91 / 156

Justina Mendes, e para logo adivinhei que dentro daquele peito não havia senão membranas, tecidos adiposos e ossos com as respectivas cartilagens. Fez-me doer a cabeça com três palermas respostas que me deu. Perguntando-lhe eu se tinha saudades do seu tempo de casada, respondeu-me:

- O boi solto lambe-se todo.

Devia dizer vaca, se gostava do anexim.

Perguntei-lhe se amava os bailes. Resposta:

- Bons bailes é cada um na sua casa.

A terceira pergunta:

- Que juízo faz Vossa Excelência do cavalheiro a quem eu devo o favor de lhe ser apresentado?

- Não é feio; mas eu não gosto - respondeu.

- Então de quem gosta, minha senhora?

- De ninguém: tomara eu que me deixem.

- Vossa Excelência há de necessariamente gostar de caldo de repolho com feijão branco - repliquei.

Esta facécia de mau gosto foi ouvida, repetida e lançada à circulação por duas senhoras que nos ouviam atentas.

D. Justina envesgou-me os olhos e murmurou:

- Não acho graça nenhuma ao seu atrevimento. - E, voltando a cara, sentou-se de esguelha.

Tornando ao apresentante, disse-lhe que a viúva o achava bonito.

Pedi que me apresentassem à mulher trigueira, e logo me disseram que não gastasse o meu tempo com um coração rendido aos encantos de Josino.

Este Josino, esta criatura que eu cantei em oitava rima, era um homem de biscuit, engelhado de refegos na cara como a frontaria da Batalha, velho dengoso, que tinha amado as mães das meninas casadoiras que requestava. Mas que terrível homem!... Era amado, e casou com ela.

***

NOTA

Diz Silvestre que cantara Josino em oitava rima. O leitor decerto me agradece a reprodução do poema, que passou despressentido e sem assinatura num jornal literário daquele tempo. Foi ele escrito na véspera do matrimónio de Josino com a formosa trigueirinha.





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