CAPÍTULO II - A MULHER QUE O MUNDO RESPEITA A minha alma olhou para o que foi e viu que os sete amores que a tinham derrancado passageiramente eram ridículos e indignos de serem dados como explicação de um cinismo sobremaneira satânico em que eu me andava ensaiando.
Antes, porém, que eu tornasse em mim, estive seis meses a dizer ao mundo, em prosas chamadas Meditações e em versos denominados gritos de alma, que estava céptico, e cínico, e que havia de engolfar no lodo em que me atascaram o coração as virgens louras com o seu amor ingénuo, e quantas virgens de diversas cores a minha libertinagem atraísse às aras de sedenta vingança. Aqui vão as cópias dos principais poemas que então fiz...
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NOTA
Defendo a paciência do leitor dos duros golpes que lhes estão iminentes. Ainda assim, há de levar-me a bem que eu lhe dê, à prova, uns relanços das poesias cépticas do meu amigo Silvestre. Entro pela mais filosófica:
Ontem me riu o céu; milhões de estrelas
Falaram-me d’amor.
Ontem flores a mil, e todas elas
Davam-me, dos seus dons, das urnas belas,
Aroma à alma em flor!
Hoje, aí!, hoje um céu de negro, e a terra
De crepe funeral!
Hoje um peito que em si peçonha encerra;
E a alma em fogo, que precita erra
Num regiro infernal.
As seguintes coisas são menos inocentes:
Mulher!, em ânsias me esforço,
Punge-me dentro o remorso
De te não calcar aos pés!
Tinha uma crença...mataste-a!
Tinha uma luz...apagaste-a!...
Mulher!, que monstro tu és!
Esta quadra da poesia LXIX é mais raivosa
Hei de essa alma perversa estrinçar-te!
Hei de à cara cuspir-te a peçonha
Que verteste no meu peito, e ferrete
Hei de pôr-to de eterna vergonha!
Basta isto para terror das almas e amostra da poesia contemporânea de Silvestre.