SEGUNDA PARTE – CABEÇA
CAPÍTULO I – JORNALISTA O homem não se deve somente à sua felicidade - primeira máxima.
O principal egoísta é aquele que se descia em explorar o coração alheio para opulentar o próprio com as deleitações do amor - segunda máxima.
Como a felicidade do egoísta é um paradoxo, a felicidade pelo amor é impossível - terceira máxima.
Quarta - o bem particular é resultado do bem geral.
Quem quiser ser feliz há de convencer-se de que sacrificou ao bem geral uma parte dos seus prazeres individuais - quinta máxima.
O amor, considerado fonte de contentamentos ideais, é o sonho de um doido sublime - sexta.
Sétima - a mulher é uma contingência: quem quiser constituí-la essência da sua vida aleija-se na alma e cairá setenta vezes sete vezes das muletas a que se ampare do chão mal gradado e barrancoso do seu falso caminho.
Estas sete máximas fui eu que as compus, depois de ler a antiguidade e alguns almanaques que tratavam do amor.
Comecei a pensar no modo de ser útil à humanidade com a minha experiência e inteligência do coração humano. Ofereceu-se-me logo azo de exercitar as minhas benévolas disposições. Escrevi para o Periódico dos Pobres, do Porto, uma correspondência contra o regedor da minha freguesia, acusando-o de me prender um criado para recruta. Nesta correspondência discorri largamente acerca dos direitos do homem. Examinei o que foi a liberdade em Grécia e Roma. Procurei-a no berço do cristianismo e vim com ela, através dos séculos, até a Revolução Francesa, que eu denominei o último verbo da sociabilidade humana: tudo isto por causa do recruta e contra o regedor da minha freguesia, que eu cobri de epítetos tais como ominoso e paxá de três caudas.
O regedor respondeu-me e eu repliquei.