CAPÍTULO III - A MULHER QUE O MUNDO DESPREZA Naquele tempo li eu que Alfredo de Musset e Espronceda, poetas de altos espíritos, atordoavam as suas dores com a embriaguez, o primeiro porque amava uma literata anfíbia, o segundo porque o alanceavam remorsos de ter desgraçado uma Teresa, que morrera de paixão, por isso mesmo que não era literata.
Era então moda a vinolência, particularmente na academia universitária, onde os mancebos de mais poesia de alma e arremessos de “aspirações grandiosas”, como então se dizia, protestavam contra a estreiteza do âmbito, em que o século lhes apertava as faculdades, dilatando os fictícios horizontes da vida, até onde o vinho da bairrada, a genebra e o conhaque permitiam. Verdade é que nem sempre os ébrios podiam justificar a sua degradação com a necessidade de afogarem os desalentos e dissabores da existência nas copiosas libações. Uns embriagavam-se para darem em espetáculo de admiradores a capacidade do seu estômago, e bebiam por alguidares; outros contavam aos seus amigos uma história tenebrosa de amor, que lhes matara a esperança e os infernara para sempre: a história prefaciava de ordinário a emborcação de uma garrafeira. Os auditores do infausto rapaz levavam-no depois à cama, onde ele digeria o seu vinho e a sua angústia suprema.
Eu conheci um deles infelizes, que era meu conterrâneo e passava em Coimbra por ter sido ultrajado na sua nobre alma pela mulher de cujos lábios fementidos recebera a morte. Alguns poetas cantaram-no, praguejando a infame que lhe apunhalara o coração. Da história, que ele referia em tom cavo, a verdade nua era que ele viu a sobrinha de um abade numa romaria e ofereceu-lhe cavacas, que ela não aceitou, porque o abade lhes não tirava o olho de cima. Ajunte-se a isto que ele foi à aldeia da Sra.