- E agora? perguntou Amaro.
- Agora saltar, disse ela rindo.
- Cá vai! exclamou ele.
Traçou a capa, saltou: mas escorregou nas ervas húmidas, - e imediatamente Amélia, debruçando-se, rindo muito, com grandes acenos de mãos:
- E agora adeus, senhor pároco, que eu vou ter com a D. Maria. Aí fica preso na fazenda. Para cima não pode o senhor pular, pela cancela não pode o senhor passar! É o senhor pároco que está preso...
- Ó menina Amélia! ó menina Amélia!
Ela cantarolava-lhe, escarnecendo:
Fico sozinha à varanda,
Que o meu bem está na prisão!
Aquelas maneirinhas excitavam o padre - e com os braços erguidos, a voz cálida:
- Salte, salte!
Ela então fez voz de mimo:
- Ai, tenho medinho! tenho medinho...
- Salte, menina!
- Lá vai! gritou ela bruscamente.
Saltou, foi cair-lhe sobre o peito com um gritinho. Amaro resvalou, firmou-se - e sentindo entre os braços o corpo dela, apertou-a brutalmente e beijou-a com furor no pescoço
Amélia desprendeu-se, ficou diante dele, sufocada, com a face em brasa, compondo na cabeça e em roda do pescoço, com as mãos trêmulas, as pregas da manta de lã. Amaro disse-lhe:
- Ameliazinha!
Mas ela de repente apanhou os vestidos, correu ao comprido do valado. Amaro, com grandes passadas, seguiu-a atarantado. Quando chegou à cancela, Amélia falava ao caseiro, que aparecia com a chave.
Atravessaram o campo junto ao regueiro, depois a rua coberta com a parreira. Amélia adiante palrava com o caseiro; e atrás Amaro, de cabeça baixa, seguia muito murcho. Ao pé da casa Amélia parou, fazendo-se vermelha, compondo sempre a manta em redor do pescoço:
- Ó Antônio, disse, ensine o portão ao senhor pároco. Muito boas tardes, senhor pároco.