O Crime do Padre Amaro - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 118 / 478

- Muito obrigado, minha senhora, muito obrigado.

E continuando a arrumar a sua roupa, o pároco desesperava-se agora contra a resolução que tomara. A pequena evidentemente não tinha aberto bico! Para que sairia então daquela casa tão barata, tão confortável, tão amiga? E odiava o cônego pelo seu zelo tão precipitado.

O jantar foi triste. Amélia, decerto para explicar a sua palidez, queixava-se de dores na cabeça. Ao café o cônego quis a sua "dose de música"; e Amélia, ou maquinalmente ou com intenção, disse a canção querida:

Ai! adeus! acabaram-se os dias

Que ditoso vivi a teu lado!

Soa a hora, o momento fadado.

É forçoso deixar-te e partir!

Então, àquela chorosa melodia repassada das tristezas da separação, Amaro sentiu-se tão perturbado que teve de se erguer bruscamente, ir encostar o rosto à vidraça, esconder as duas lágrimas que irreprimivelmente lhe saltavam das pálpebras. Os dedos de Amélia embrulhavam-se também no teclado; até a mesma S. Joaneira disse:

- Oh! filha, toca outra coisa, credo!

Mas o cônego, erguendo-se pesadamente:

- Pois senhores, vão sendo horas. Vamos lá, Amaro. Eu vou consigo até a Rua das Sousas...

Amaro então quis dizer adeus à idiota; mas depois de um forte acesso de tosse, a velha dormia, muito fraca.

- Deixá-la sossegada, disse Amaro. E apertando a mão à S. Joaneira: - Muito obrigado por tudo, minha senhora, acredite...

Calou-se, com um soluço na garganta.

A S. Joaneira tinha levado aos olhos a ponta do seu avental branco.

- Oh, senhora! disse o cônego rindo-se, já há bocado lhe disse, o homem não vai para as Índias!

- A gente é pela amizade que lhes ganha, choramingou a S. Joaneira.

Amaro tentou gracejar. Amélia, muito branca, mordia o beicinho.





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