Á saída da missa começara a chover; e Amélia e a mãe, à porta com outras senhoras, esperavam uma "aberta".
- Olá! por aqui? disse de repente Amaro, chegando-se, muito branco.
- Estamos à espera que passe a chuva, senhor pároco, disse a S. Joaneira voltando-se. E imediatamente, muito repreensiva: - E por que não tem aparecido, senhor pároco? Realmente! Que lhe fizemos nós? Credo, até dá que falar...
- Muito ocupado, muito ocupado... balbuciou o pároco.
- Mas um bocadinho à noite. Olhe, pode crer, tem-me causado desgosto... E todos têm reparado. Não, lá isso, senhor pároco, tem sido ingratidão!
Amaro disse, corando:
- Pois acabou-se. Hoje à noite lá apareço, e estão as pazes feitas...
Amélia, muito vermelha, para encobrir a sua perturbação olhava para todos os pontos o céu carregado, como assustada do temporal.
Amaro então ofereceu-lhe o seu guarda-chuva. E enquanto a S. Joaneira o abria, apanhando com cuidado o vestido de seda, Amélia disse ao pároco:
- Até à noite, sim? - e mais baixo, olhando em redor, com medo: - Oh, vá! Tenho estado tão triste! tenho estado como doida! Vá, peço- lhe eu!
Amaro, voltando para casa, continha-se para não correr pelas ruas de batina. Entrou no quarto, sentou-se aos pés da cama, e ali ficou saturado de felicidade, como um pardal muito farto num raio de sol muito quente: recordava o rosto de Amélia, a redondeza dos seus ombros, a beleza dos encontros, as palavras que lhe dissera: - Tenho estado como doida! A certeza de que "a rapariga gostava dele" entrou-lhe então na alma com a violência de uma rajada, e ficou a sussurrar por todos os recantos do seu ser com um murmúrio melodioso de felicidades agitadas.