O Crime do Padre Amaro - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 138 / 478

Achava-os um "perigo para a civilização e para a liberdade"; supunha-os intrigantes, com hábitos de luxúria, e conspirando sempre para restabelecer "as trevas da Meia-Idade"; odiava a confissão que julgava uma arma terrível contra a paz do lar; e tinha uma religião vaga - hostil ao culto, às rezas, aos jejuns, cheia de admiração pelo Jesus poético, revolucionário, amigo dos pobres, e "pelo sublime espirito de Deus que enche todo o Universo"! Só desde que amava Amélia é que ouvia missa, para agradar à S. Joaneira.

E desejaria sobretudo apressar o casamento, para tirar Amélia daquela sociedade de beatas e padres, receando ter mais tarde uma mulher que tremesse do Inferno, passasse horas a rezar estações na Sé, e se confessasse aos padres "que arrancam às confessadas os segredos de alcova"!

Quando Amaro voltara a frequentar a Rua da Misericórdia, ficou contrariado. "Cá temos outra vez o marmanjo!", pensou. Mas que desgosto, quando reparou que Amélia tratava agora o pároco com uma familiaridade mais terna, que a presença dele lhe dava visivelmente uma animação singular, "e que havia uma espécie de namoro"! Como ela se fazia vermelha, mal ele entrava! Como o escutava, com uma admiração babosa! Como arranjava sempre a ficar ao pé dele nas partidas de quino!

Uma manhã, mais inquieto, veio à Rua da Misericórdia, - e enquanto a S. Joaneira tagarelava na cozinha, disse bruscamente a Amélia:

- Menina Amélia, sabe? Está-me a dar um grande desgosto com essas maneiras com que trata o Sr. padre Amaro.

Ela ergueu os olhos espantados:

- Que maneiras? Ora essa! Então como quer que o trate? É um amigo da casa, esteve aqui de hóspede...

- Pois sim, pois sim...

- Ah! mas sossegue. Se isso o quezila, verá. Não me torno a chegar para ao pé do homem.





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