O Crime do Padre Amaro - Cap. 9: Capítulo 9 Pág. 140 / 478

Uma tarde, tendo-a visto sair da Sé, esperou-a adiante da botica, e muito decidido:

- Eu quero-lhe falar, menina Amélia... Isto não pode continuar assim... Eu não posso... A menina traz namoro com o pároco!

Ela mordeu o beiço, toda branca:

- O senhor está a insultar-me! - e queria seguir, toda indignada.

Ele reteve-a pela manga do casabeque: '

- Ouça, menina Amélia. Eu não a quero insultar, mas é que não sabe. Tenho andado, que até se me parte o coração. - E perdeu a voz, de comovido.

- Não tem razão... Não tem razão, balbuciava ela.

- Jure-me então que não há nada com o padre!

- Pela minha salvação!... Não há nada!... Mas também lhe digo, se tornar a falar em tal, ou a insultar-me, conto tudo à mamã, e o senhor escusa de nos voltar a casa.

- Oh menina Amélia...

- Não podemos continuar aqui a falar... Está ali já a D. Micaela a cocar.

Era uma velha, que levantara a cortina de cassa numa janela baixa, e espreita-la com olhinhos reluzentes e gulosos, a face toda ressequida encostada sofregamente à vidraça. Separaram-se então, - e a velha desconsolada deixou cair a cortina.

Amélia nessa noite - enquanto as senhoras discutiam com algazarra os missionários que então pregavam na Barrosa - disse baixo a Amaro, picando vivamente a costura:

- Precisamos ter cautela... Não olhe tanto para mim nem esteja tão chegado... Já houve quem reparasse.

Amaro recuou logo a cadeira para junto de D. Maria da Assunção; e, apesar da recomendação de Amélia, os seus olhos não se despregavam dela, numa interrogação muda e ansiosa, já assustado que as desconfianças da mãe ou a malícia das velhas "andassem armando escândalo". Depois do chá, no rumor das cadeiras que se acomodavam ao quino, perguntou-lhe rapidamente:

- Quem reparou?





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