O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 158 / 478

Mesmo querelar pelo ministério público porque um periódico diz duas ou três pilhérias sobre o cabido, impossível! Tínhamos de querelar toda a imprensa de Portugal, com exceção da Nação e do Bem Público! Onde iria parar a liberdade de pensamento, trinta anos de progresso, a própria ideia governamental? Mas nós não somos os Cabrais, meu caro senhor! Nós queremos luz, muitíssima luz! Justamente o que nós queremos é luz!

Natário tossiu devagarinho, disse:

- Perfeitamente. Mas então quando pelas eleições, a autoridade nos vier pedir o nosso auxilio, nós vendo que não encontramos nela proteção, diremos simplesmente: "Non possumus!"

- E pensa o senhor cura, que por amor de alguns votos que dão os senhores abades, nós vamos trair a civilização?

E o antigo Bibi, tomando uma grande atitude, soltou esta frase:

- Somos filhos da liberdade, não renegaremos nossa mãe!

- Mas o doutor Godinho, que é a alma do jornal, é oposição, observou então Natário; proteger-lhe o jornal é implicitamente proteger-lhe as manobras...

O secretário-geral teve um sorriso:

- Meu caro senhor cura, V. St não está no segredo da política. Entre o doutor Godinho e o governo civil não há inimizade, há apenas um arrufo... O doutor Godinho é uma inteligência... Vai reconhecendo que o grupo da Maia não produz nada... O doutor Godinho aprecia a política do governo, e o governo aprecia o doutor Godinho.

E, rebuçando-se todo num mistério de Estado, acrescentou:

- Coisas de alta política, meu caro senhor.

Natário ergueu-se:

- De modo que...

- Impossibilis est, disse o secretário. De resto acredite, senhor cura, que, como particular, revolto-me contra o Comunicado; mas como autoridade devo respeitar a expressão do pensamento...





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