O Crime do Padre Amaro - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 198 / 478

- Menina Amélia, disse, eu não esperava poder assim falar-lhe a sós. Mas as coisas arranjaram-se... É decerto a vontade de Nosso Senhor! E depois, como as suas maneiras mudaram tanto...

Ela voltou-se bruscamente, toda escarlate, o beicinho trêmulo:

- Mas bem sabe por quê! exclamou quase chorando.

- Sei. Se não fosse aquele infame Comunicado, e as calúnias... nada se tinha passado, e a nossa amizade seria a mesma, e tudo iria bem... É justamente a esse respeito que eu lhe quero falar.

Chegou a cadeira mais para junto dela, e muito suave, muito tranquilo:

- Lembra-se desse artigo em que todos os amigos da casa eram insultados? em que eu era arrastado pela rua da amargura? em que a menina mesma, a sua honra era ofendida?... Lembra-se, hem? Sabe quem o escreveu?

- Quem? perguntou Amélia toda surpreendida.

- O Sr. João Eduardo! disse o pároco muito tranquilamente cruzando os braços diante dela.

- Não pode ser!

Tinha-se erguido. Amaro puxou-lhe devagarinho pelas saias para a fazer sentar; e a sua voz continuou paciente e suave:

- Ouça. Sente-se. Foi ele que o escreveu. Soube ontem tudo. O Natário viu o original escrito pela letra dele. Foi ele que descobriu. Por meios dignos decerto,.. e porque era a vontade de Deus que a verdade aparecesse. Agora escute. A menina não conhece esse homem. - Então, baixo, contou-lhe o que sabia de João Eduardo, por Natário: as suas noitadas com o Agostinho, as suas injúrias contra os padres, a sua irreligião...

- Pergunte-lhe se ele se confessa há seis anos, e peça-lhe os bilhetes da confissão!

Ela murmurava, com as mãos caídas no regaço:

- Jesus, Jesus...

- Eu então entendi que como íntimo da casa, como pároco, como cristão, como seu amigo, menina Amélia... porque acredite que lhe quero... enfim, entendi que era o meu dever avisá-la! Se eu fosse seu irmão, dizia-lhe simplesmente: "Amélia, esse homem fora de casa!".





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