Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: Capítulo 11

Página 197

Entraram no quarto da entrevada. Tinha a cabeça virada para a parede; dos seus beiços abertos saía um gemido muito débil e contínuo. Sobre a mesa agora, uma grossa vela benta, de morrão negro, erguia uma luz triste; e ao canto, transida de medo, a Ruça, segundo as recomendações da S. Joaneira, ia rezando a coroa.

- O senhor doutor, disse Amélia baixo, diz que morre sem o sentir... Diz que há-de gemer, gemer, e de repente acabar como um passarinho...

- Seja feita a vontade de Deus, murmurou gravemente o padre Amaro.

Voltaram à sala de jantar. Toda a casa estava silenciosa: fora ventava forte. Havia muitas semanas que não se encontravam assim sós. Muito embaraçado, Amaro aproximou-se da janela: Amélia encostou-se ao aparador.

- Vamos ter uma noite de água, disse o pároco.

- E está frio, disse ela, encolhendo-se no xale. Eu tenho estado passada de medo...

- Nunca viu morrer ninguém?

- Nunca.

Calaram-se - ele imóvel ao pé da janela, ela encostada ao aparador, de olhos baixos.

- Pois está frio, disse Amaro, com a voz alterada da perturbação que lhe ia dando a presença dela àquela hora da noite.

- Na cozinha está a braseira acesa, disse Amélia. É melhor irmos para lá.

- É melhor.

Foram. Amélia levou o candeeiro de latão: e Amaro, indo remexer com as tenazes o brasido vermelho, disse:

- Há que tempo que eu não entro aqui na cozinha... Ainda tem os vasos com os raminhos fora da janela?

- Ainda, é um craveiro...

Sentaram-se em cadeirinhas baixas, ao lado da braseira. Amélia, inclinada para o lume, sentia os olhos do padre Amaro devorá-la silenciosamente. Ele ia falar-lhe, decerto! Tinha as mãos a tremer; não ousava mover- se, erguer as pálpebras, com medo que lhe rompessem as lágrimas; mas ansiava pelas suas palavras, ou amargas ou doces...

Elas vieram enfim, muito graves.

<< Página Anterior

pág. 197 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Crime do Padre Amaro
Páginas: 478
Página atual: 197

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 10
Capítulo 3 19
Capítulo 4 45
Capítulo 5 59
Capítulo 6 77
Capítulo 7 93
Capítulo 8 111
Capítulo 9 123
Capítulo 10 142
Capítulo 11 182
Capítulo 12 204
Capítulo 13 217
Capítulo 14 236
Capítulo 15 272
Capítulo 16 290
Capítulo 17 313
Capítulo 18 319
Capítulo 19 344
Capítulo 20 361
Capítulo 21 376
Capítulo 22 395
Capítulo 23 425
Capítulo 24 455
Capítulo 25 469