O Crime do Padre Amaro - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 213 / 478

Tinham voltado para junto da janela, e gozaram muito, espreitando o senhor administrador do conselho, que, por trás da vidraça da repartição, namorava de binóculo a do Teles alfaiate. - Ai, era um escândalo! Que nunca houvera em Leiria autoridades assim! O secretário-geral era um desaforo com a Novais... Que se podia esperar de homens sem religião, educados em Lisboa, que, segundo D. Josefa, estava predestinada a perecer como Gomorra pelo fogo do Céu! - A Amparo cosia com a cabeça baixa, envergonhada talvez diante daquela indignação piedosa, dos desejos culpados que a roíam de ver o Passeio Público e de ouvir os cantores em S. Carlos.

Mas bem depressa a Sra. D. Josefa começou a falar do escrevente. A Amparo não sabia nada; e a velha teve a satisfação de contar prolixamente, "tintim por tintim", a história do Comunicado, o desgosto na Rua da Misericórdia, e a campanha de Natário para descobrir o liberal. Alargou-se principalmente sobre o caráter de João Eduardo, a sua impiedade, as suas orgias... E, considerando um dever de cristã aniquilar o ateu, deu mesmo a entender que alguns roubos ultimamente cometidos em Leiria, eram "obra de João Eduardo".

A Amparo declarou-se "banzada". O casamento então, com a Ameliazinha...

- Isso pertence à história, declarou com júbilo D. Josefa Dias. Vão pô-lo fora de casa! E por muito feliz se deve o homem dar em não ir parar ao banco dos réus... Que a mim o deve, e à prudência do mano e do Sr. padre Amaro. Que havia motivos para o ferrar na cadeia!

- Mas a pequena gostava dele, ao que parece.

D. Josefa indignou-se. Credo, a Amélia era uma rapariga de juízo, de muita virtude! Apenas conheceu os desaforos, foi a primeira a dizer que não, e que não! Ai! detestava-o... - E D. Josefa, baixando a voz em confidência, contou "que era positivo que ele vivia com uma desgraçada para os lados do quartel".





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