O Carlos da botica - que era inquilino do cônego e um pouco ronceiro na renda - desbarretou-se com espalhafato apenas D. Josefa apareceu à porta, e conduziu-a logo acima, à sala de cortinas de cassa, onde a Amparo costurava à janela.
- Ai, não se prenda, Sr. Carlos, dizia-lhe a velha. Não largue os seus afazeres. Eu deixei a afilhada na Sé, e venho aqui descansar um bocadinho.
- Então, se me dá licença... E como vai o nosso cônego?
- Não tornou a ter a dor. Mas tem sofrido de tonturas.
- Começos de Primavera, disse o Carlos que retomara o seu ar majestoso, de pé no meio da sala, com os dedos nas aberturas do colete. Também eu me tenho sentido perturbado... Nós, as pessoas sanguíneas, sofremos sempre disto que se pode chamar o renascimento da seiva... Há uma abundância de humores no sangue, que, não sendo eliminados pelos canais próprios, vão, por assim dizer, abrir caminho, aqui e além, pelo corpo, sob a forma de furúnculo, espinha, nascida, às vezes, em lugares bem incômodos, e, ainda que em si insignificantes, acompanhados sempre, por assim dizer, dum cortejo... Perdão, sinto o praticante a palrar... Se me dá licença... Respeitos ao nosso cônego. Que use a magnésia de James!
D. Josefa então quis ver a menina com o sarampo. Mas não passou da porta do quarto, recomendando à pequena, que arregalava uns olhos de febre, muito abafada na roupa, "não se descuidasse das suas oraçõezinhas de manhã e à noite". Aconselhou à Amparo alguns remédios, que eram milagrosos no sarampo; mas se a promessa fora feita com fé, a menina podia considerar-se curada... Ai, todos os dias dava graças a Deus de se não ter casado! Que filhos eram só para dar trabalho e canseiras; e com as quezílias que traziam e o tempo que tomavam, eram até causa duma mulher se descuidar das suas práticas e meter a alma no Inferno.
- Tem razão, D. Josefa, disse a Amparo, é um castigo... E eu com cinco! às vezes fazem-me tão doida, que me sento aqui na cadeirinha, e ponho-me a chorar só comigo...