O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 250 / 478

Mas Gustavo, com autoridade, pôs-se entre os dois, e declarou que era necessário ser-se cavalheiro! Questões e más palavras, não! Podia-se chalacear e troçar os amigos, mas como cavalheiros! E ali só havia cavalheiros.

Arrastou para um canto o escrevente, que resmungava muito ressentido.

- Oh, João! oh, João! dizia-lhe com grandes gestos, isso não é dum homem ilustrado!

Que diabo! Era necessário ter-se boas maneiras! Com repentes, com vinho desordeiro, não havia pândega, nem sociedade, nem fraternidade!

Voltou ao tio Osório, falando-lhe sobre o ombro, excitado:

- Eu respondo por ele, Osório! É um cavalheiro! Mas tem tido desgostos, e não está acostumado a um litro de mais. É o que é! Mas é dos bons... Você desculpe, tio Osório. Que eu respondo por ele...

Foi buscar o escrevente, persuadiu-o a apertar a mão ao tio Osório. O taberneiro declarou com ênfase que não quisera insultar o cavalheiro. Os shake-hands então sucederam-se com veemência. Para consolidar a reconciliação, o tipógrafo pagou três canas brancas. João Eduardo, por brio, ofereceu também um giro de conhaque. E com os copos em fila sobre o balcão, trocavam boas palavras, tratavam-se de cavalheiros, - enquanto o borracho, esquecido ao seu canto, derreado para cima da mesa, a cabeça sobre os punhos e o nariz sobre o litro, se babava silenciosamente, com o cachimbo cravado nos dentes.

- Disto é que eu gosto, dizia o tipógrafo a quem a aguardente aumentara a ternura. Harmonia! Cá o meu fraco é a harmonia! Harmonia entre a rapaziada e entre a humanidade... O que eu queria era ver uma grande mesa, e toda a humanidade sentada num banquete, e fogo preso, e chalaça, e decidirem-se as questões sociais! E o dia não vem longe em que você o há-de ver, tio Osório!...





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