O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 251 / 478

Em Lisboa as coisas vão-se preparando para isso. E o tio Osório é que há-de fornecer o vinho... Hem, que negociozinho! Diga que não sou amigo!

- Obrigado, Sr. Gustavo, obrigado...

- Isto aqui entre nós, hem? Que somos todos cavalheiros! E cá este - abraçava João Eduardo - é como se fosse irmão! Entre nós é pra vida e pra morte! E é mandar a tristeza ao diabo, rapazão! Toca a escrever o folheto... O Godinho, e o Nunes...

- O Nunes racho-o! soltou com força o escrevente, que, depois das saúdes com cana, parecia mais sombrio.

Dois soldados entraram então na taberna - e Gustavo julgou que eram horas de ir para a tipografia. Senão, não se haviam de separar todo o dia, não se haviam de separar toda a vida!... Mas o trabalho é dever, o trabalho é virtude!

Saíram, enfim, depois de mais shake-hands com o tio Osório. à porta, Gustavo jurou ainda ao escrevente uma lealdade de irmão; obrigou-o a aceitar a sua bolsa de tabaco; e desapareceu à esquina da rua, de chapéu para a nuca, trauteando o Hino do Trabalho.

* * *

João Eduardo, só, abalou logo para a Rua da Misericórdia. Ao chegar à porta da S. Joaneira, apagou com cuidado o cigarro na sola do sapato, e deu um puxão tremendo ao cordão da campainha.

A Ruça veio, correndo.

- A Ameliazinha? Quero-lhe falar!

- As senhoras saíram, disse a Ruça espantada do modo do Sr. Joãozinho.

- Mente, sua bêbeda! berrou o escrevente.

A rapariga, aterrada, fechou a porta de estalo.

João Eduardo foi-se encostar à parede defronte, e ficou ali, de braços cruzados, observando a casa: as janelas estavam fechadas, as cortinas de cassa corridas; dois lenços de rapé do cônego secavam embaixo na varanda.

Aproximou-se de novo e bateu devagarinho a aldrava. Depois repicou com furor a campainha.





Os capítulos deste livro