O Crime do Padre Amaro - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 292 / 478

Rebuscou num canto da gaveta, meteu-lhe meia libra na mão.

- Seja pelo amor de Deus, filho, murmurou ela.

- Bem; e agora, Dionísia, que lhe parece? perguntou ele, recostado na cadeira, esperando os conselhos da matrona.

Ela disse, muito naturalmente, sem afetação de mistério ou de malícia:

- A mim parece-me que para ver a pequena não há como a casa do sineiro!

- A casa do sineiro?

Ela recordou-lhe, muito tranquilamente, a excelente disposição do sítio?. Um dos quartos ao pé da sacristia, como ele sabia, dava para um pátio onde se tinha feito um barracão no tempo das obras. Pois bem, justamente do outro lado eram as traseiras da casa do sineiro... A porta , da cozinha do tio Esguelhas abria para o pátio: era sair da sacristia, atravessá-lo, e o senhor pároco estava no ninho!

- E ela?

- Ela entra pela porta do sineiro, pela porta da rua que dá para o adro. Não passa viva alma, é um ermo. E se alguém visse, nada mais natural, era a menina Amélia que ia dar um recado ao sineiro... Isto, já se vê, é ainda pelo alto, que o plano pode-se aperfeiçoar...

- Sim, compreendo, é um esboço, disse Amaro que passeava pelo quarto refletindo.

- Eu conheço bem o sítio, senhor pároco, e creia o que lhe digo: para um senhor eclesiástico que tem o seu arranjinho, não há melhor que a casa do sineiro!

Amaro parou diante dela, rindo, familiarizando-se:

- Ó tia Dionísia, diga lá com franqueza: não é a primeira vez que você aconselha a casa do sineiro, hem?

Ela então negou, muito decisivamente. Era homem que nem conhecia, o tio Esguelhas! Mas tinha-lhe vindo aquela ideia de noite, a malucar na cama. Pela manhã cedo fora examinar o sítio, e reconhecera que estava a calhar.

Tossicou, foi-se aproximando sem ruído da porta: e voltando-se ainda, com um último conselho:

- Tudo está em que vossa senhoria se entenda bem com o sineiro.

* * *





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