- Lá está.
Os intervalos do seu serviço da igreja passava-os todos com a filha no casebre. Só atravessava o largo para ir à botica por algum remédio, ou comprar bolos à confeitaria da Teresa. Todo o dia aquele recanto da Sé, o pátio, o barracão, o alto muro ao lado coberto de parietárias, a casa ao fundo com a sua janela de portada negra numa parede lazeirenta, permaneciam num silêncio, numa sombra húmida: e os meninos do coro, que às vezes se arriscavam a ir pé ante pé, pelo pátio, espreitar o tio Esguelhas, viam-no invariavelmente curvado à lareira, com o cachimbo na mão, cuspilhando tristemente para as cinzas.
Costumava todos os dias respeitosamente ouvir a missa do senhor pároco. E Amaro, nessa manhã, ao revestir-se, sentindo-lhe nas lájeas do pátio a muleta, ia já ruminando a sua história - porque não podia pedir ao tio Esguelhas o uso do seu casebre sem explicar, de algum modo, que o desejava para um serviço religioso... E que serviço, a não ser preparar, em segredo e longe das oposições mundanas, alguma alma terna para o convento e para a santidade?
Ao vê-lo entrar na sacristia, deu-lhe logo um "bons-dias" amáveis. Achou-lhe uma bela cara de saúde! Também não admirava - porque, segundo todos os santos padres, a frequentação dos sinos, pela virtude particular que lhes comunica a consagração, dá uma alegria e um bem-estar especiais. Contou então com bonomia ao tio Esguelhas e aos dois sacristães que, quando era pequeno, em casa da Sra. marquesa de Alegros, o seu grande desejo era ser um dia sineiro...
Riram muito, extasiando-se com a pilhéria de sua senhoria.