O Crime do Padre Amaro - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 296 / 478

Durante toda a missa, ao voltar-se para a nave, no Ofertório e ao Orate, fratres, o padre Amaro dirigia-se sempre (por uma benevolência que o ritual permite) para o sineiro, como se o Sacrifício fosse por sua intenção particular; - e o tio Esguelhas, com a sua muleta pousada ao lado, abismava-se então numa devoção mais respeitosa. Mesmo ao Benedicat, depois de ter começado a bênção voltado para o altar para recolher do Deus vivo o depósito da Misericórdia, terminou-a, virando-se devagar para o tio Esguelhas especialmente, como para lhe dar a ele só as Graças e Dons de Nosso Senhor!

- E agora, tio Esguelhas, disse-lhe baixo ao entrar na sacristia, vá-me esperar ao pátio que temos que conversar.

Não tardou a vir ter com ele, com uma face grave que impressionou o sineiro.

- Cubra-se, cubra-se, tio Esguelhas. Pois eu venho falar-lhe dum caso sério... Verdadeiramente pedir-lhe um favor...

- Oh, senhor pároco!

Não, não era um favor... Porque, quando se tratava do serviço de Deus, todos tinham o dever de concorrer na proporção das suas forças... Tratava-se duma menina que se queria fazer freira. Enfim, para lhe provar a confiança que tinha nele, ia-lhe dizer o nome...

- É a Ameliazinha da S. Joaneira!

- Que me diz, senhor pároco?!

- Uma vocação, tio Esguelhas! Vê-se o dedo de Deus! É extraordinário...

Contou-lhe então uma história difusa que ia forjando laboriosamente, segundo as sensações que imaginava ver na face pasmada do sineiro. A rapariga desgostara-se da vida, com as desavenças que tivera com o noivo. Mas a mãe que estava velha, que a necessitava para o governo da casa, não queria consentir, supondo que era uma veleidade... Mas não, era vocação... Ele sabia-o...





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