O Crime do Padre Amaro - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 297 / 478

Infelizmente, quando havia oposição, a conduta do sacerdote era muito delicada... Todos os dias os jornais ímpios (e infelizmente era a maioria!) gritavam contra as influências do clero... As autoridades, mais ímpias que os jornais, punham obstáculos... Havia leis terríveis... Se soubessem que ele andava a instruir a menina para professar, ferravam-no na cadeia! Que queria o tio Esguelhas?... Impiedade, ateísmo do tempo!

Ora, ele necessitava ter com a pequena muitas e muitas conferências: para a experimentar, para conhecer as suas disposições, ver bem se é para a Solidão que ela tem jeito, ou para a Penitência, ou para o serviço dos enfermos, ou para a Adoração Perpétua, ou para o Ensino... Enfim, estuda-la por dentro e por fora.

- Mas onde? exclamou, abrindo os braços como na desolação de um santo dever contrariado. Onde? Em casa da mãe não pode ser, já andam desconfiados. Na igreja impossível, era o mesmo que na rua. Em minha casa, já vê, menina nova...

- Está claro.

- De modo que, tio Esguelhas... E estou certo que você mo há-de agradecer... pensei na sua casa...

- Oh, senhor pároco, acudiu o sineiro, eu, a casa, os trastes, está tudo às ordens!

- Bem vê, é no interesse daquela alma, é um regozijo para Nosso Senhor...

- E para mim, senhor pároco, e para mim!

O que o tio Esguelhas receava é que a casa não fosse decente e não tivesse as comodidades...

- Oral fez o padre sorrindo, num renunciamento de todos os confortos humanos. Contanto que haja duas cadeiras e uma mesa para pôr o livro da oração...

De resto, por outro lado, dizia o sineiro, lá como sítio retirado e casa sossegada estava a preceito. Ficavam ali, ele e a menina, como os monges no deserto. Nos dias em que o senhor pároco viesse, ele saía a dar o seu giro. Na cozinha não poderiam acomodar-se, porque o quartito da pobre Totó era ao pé... Mas tinham o quarto dele, em cima.





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