O Crime do Padre Amaro - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 326 / 478

Tinha de tomar logo um caldo... Enfim, dizia-se que a Totó tinha o demônio no corpo. E o senhor chantre, o outro que tinha morrido (Deus lhe fale na alma), costumava dizer que, neste mundo, as duas coisas que se pegavam mais às mulheres eram tísicas e demônio no corpo. Parecia-lhe, pois, que não devia consentir que a pequena fosse a casa do sineiro, sem estar certa que aquilo nem lhe prejudicava a saúde, nem lhe prejudicava a alma. Enfim, queria que uma pessoa de juízo, de experiência, fosse examinar a Totó...

- Numa palavra, disse o cônego, que escutara de olhos cerrados aquela verbosidade repassada de lamúria; o que a senhora quer é que eu vá ver a paralítica, e saber à justa o que se passa...

- Era um alívio para mim, riquinho!

Aquela palavra, que a S. Joaneira, na sua gravidade de matrona, reservava para a intimidade das sestas, enterneceu o cônego. Fez uma carícia ao pescoço gordo da sua velhota, e prometeu com bondade ir estudar o caso...

- Amanhã, que a Totó está só, lembrou logo a S. Joaneira.

Mas o cônego preferia que Amélia estivesse presente. Podia assim ver como as duas se davam, se havia influência do espírito maligno...

- Que isto que eu faço é de agradecer... É por ser para quem é... Que bem me bastam os meus achaques, sem me ocupar dos negócios de Satanás.

A S. Joaneira recompensou-o com uma beijoca sonora.

- Ah, sereias, sereias!... murmurou o cônego filosoficamente.

No fundo aquele encargo desagradava-lhe: era uma perturbação nos seus hábitos, toda uma manhã desarranjada; ia decerto fatigar-se, tendo de exercitar a sua sagacidade; além disso odiava o espetáculo de doenças e de todas as circunstâncias humanas relacionadas com a morte.





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