- Numa palavra, disse o cônego, que escutara de olhos cerrados aquela verbosidade repassada de lamúria; o que a senhora quer é que eu vá ver a paralítica, e saber à justa o que se passa...
- Era um alívio para mim, riquinho!
Aquela palavra, que a S. Joaneira, na sua gravidade de matrona, reservava para a intimidade das sestas, enterneceu o cônego. Fez uma carícia ao pescoço gordo da sua velhota, e prometeu com bondade ir estudar o caso...
- Amanhã, que a Totó está só, lembrou logo a S. Joaneira.
Mas o cônego preferia que Amélia estivesse presente. Podia assim ver como as duas se davam, se havia influência do espírito maligno...
- Que isto que eu faço é de agradecer... É por ser para quem é... Que bem me bastam os meus achaques, sem me ocupar dos negócios de Satanás.
A S. Joaneira recompensou-o com uma beijoca sonora.
- Ah, sereias, sereias!... murmurou o cônego filosoficamente.
No fundo aquele encargo desagradava-lhe: era uma perturbação nos seus hábitos, toda uma manhã desarranjada; ia decerto fatigar-se, tendo de exercitar a sua sagacidade; além disso odiava o espetáculo de doenças e de todas as circunstâncias humanas relacionadas com a morte.