O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 346 / 478

E o cónego, muito grave, continuou a escrever. D. Josefa então não se conteve; e depois de arrastar um momento as chinelas em tomo do banco do mano:

- Há novidade?

- Grande novidade, mana! disse-lhe o cónego, sacudindo os bicos da pena. Morreu o senhor D. João VI!

- Malcriado! rugiu ela rodando sobre os sapatões, cruelmente perseguida por uma risadinha do mano.

Foi à noite, em baixo, na saleta da S. Joaneira, enquanto Amélia em cima, com a morte na alma, martelava a Valsa dos Dois Mundos, que os dois padres, muito chegados no canapé, de cigarro nos dentes, por debaixo do tenebroso painel onde a vaga mão do cenobita se estendia em garra sobre a caveira, cochicharam o seu plano: - antes de tudo era necessário achar João Eduardo, que desaparecera de Leiria; a Dionísia, mulher de faro, ia bater todos os recantos da cidade para descobrir a toca em que a fera se acoutava; depois, imediatamente, porque o tempo urgia, Amélia escrever-lhe-ia... Só quatro palavras simples: que soubera que ele fora vítima duma intriga; que nunca perdera nada da amizade que lhe tinha; que lhe devia uma reparação; e que viesse vê-la... Se o rapaz hesitasse agora, o que não era provável (o cónego afirmava-o), fazia-se-lhe reluzir a esperança do emprego no governo civil, fácil de obter pelo Godinho, inteiramente governado pela mulher, que era uma escravazinha do pobre Natário?...

- Mas o Natário, disse Amaro, o Natário que detesta o escrevente, que dirá ele a esta revolução?

- Homem, exclamou o cónego com uma grande palmada na coxa, que me tinha esquecido! Pois você não sabe o que aconteceu ao pobre Natário?...

Amaro não sabia.

- Quebrou uma perna! Caiu da égua!

- Quando?





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