O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 347 / 478

- Esta manhã. Eu soube-o agora à noitinha. Eu sempre lho disse: homem, esse animal ferra-lhe alguma! Pois senhores, ferrou-lha. E tesa! Tem para pêras... E eu que me tinha esquecido! Nem as senhoras lá em cima sabem nada.

Foi uma desolação, em cima, quando souberam. Amélia fechou o piano. Todos lembraram logo remédios que se lhe devia mandar, foi uma gralhada de oferecimentos - ligaduras, fios, um unguento das freiras de Alcobaça, meia garrafinha dum licor dos monges do deserto de ao pé de Córdova... Era necessário também assegurar a intervenção do Céu: e cada uma se prontificou a usar do seu valimento com os santos da sua intimidade; D. Maria da Assunção, que ultimamente praticava com Santo Eleutério, ofereceu a sua influência; D. Josefa Dias encarregava-se de interessar Nossa Senhora da Visitação; D. Joaquina Gansoso afiançou S. Joaquim.

- E lá a menina? perguntou o cónego a Amélia.

- Eu?...

E fez-se pálida, numa tristeza de toda a sua alma, pensando que ela, com os seus pecados e os seus delírios, perdera a útil amizade de Nossa Senhora das Dores. - E não poder ela também concorrer com a sua influência no Céu para restabelecer a perna de Natário, foi uma das amarguras maiores, talvez a punição mais viva que sentira desde que amava o padre Amaro.

* * *

Foi em casa do sineiro, daí a dias, que Amaro participou a Amélia o plano do padre-mestre. Preparou-a, revelando-lhe primeiro que o cónego sabia tudo...

- Sabe tudo em segredo de confissão, acrescentou para a sossegar. Além disso ele e tua mãe têm culpas em cartório... Tudo fica em família...

Depois tomou-lhe a mão, e olhando-a com ternura, como compadecendo-se já das lágrimas aflitas que ela ia chorar:

- E agora, escuta, filha. Não te aflijas com o que te vou dizer, mas é necessário, é a nossa salvação...





Os capítulos deste livro