O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 352 / 478

E havia três libras e dezassete tostões de despesa.

- Dezassete demônios! rugiu o cónego, voltando-se para Amaro furioso. E no fim de contas foi o senhor que gozou, que se refocilou, e sou eu que estou aqui a arrasar a minha saúde com estas andadas, e a fazer desembolsos desta ordem!

Amaro, dependente do padre-mestre, vergou os ombros à injúria.

Mas não estava nada perdido, graças a Deus. A Dionísia lá andava no faro!

* * *

Amélia recebia estas notícias com desconsolação. Depois das primeiras lágrimas, a irremediável necessidade impusera-se-lhe, muito forte. Por fim que lhe restava? Daí a dois ou três meses, com aquele seu desgraçado corpo de cinta fina e quadris estreitos, não poderia esconder o seu estado. E que faria então? Fugir de casa, ir como a filha do tio Cegonha para Lisboa, ser espancada no Bairro Alto pelos marujos ingleses, ou como a Joaninha Gomes, que fora a amiga do padre Abílio, levar pela cara os ratos mortos que lhe atiravam os soldados? Não. Então, tinha de casar...

Depois vir-lhe-ia um menino ao fim dos sete meses (era tão frequente!), legitimado pelo sacramento, pela lei e por Deus Nosso Senhor... E o seu filho teria um papá, receberia uma educação, não seria um enjeitado...

Desde que o senhor pároco lhe afirmara, em juramento, que o escrevente não estava realmente excomungado, que com algumas orações se lhe levantaria a excomunhão, os seus escrúpulos devotos esmoreciam como brasas que se apagam. No fim, em todos os erros do escrevente, ela só podia descobrir a incitação do ciúme e do amor: fora num despeito de namorado que escrevera o Comunicado, fora num furor de paixão traída que espancara o senhor pároco... Ah! Não lhe perdoava esta brutalidade!





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