O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 351 / 478

- Oh, senhores! dizia o cónego quando o padre Amaro lhe ia levar estes fios de informação. Oh, senhores! mas então nessa história toda a gente morre! Isso é uma hecatombe!

- Você graceja, padre-mestre, mas é sério. Olhe que um homem em Lisboa é agulha em palheiro. É uma fatalidade!

Então, aflito já, vendo passar os dias, escreveu à tia, pedindo-lhe que esquadrinhasse por toda a Lisboa, a ver se por lá aparecera "um tal João Eduardo Barbosa..." Recebeu uma carta da tia em garatujas de três páginas, queixando-se do Joãozinho, do seu Joãozinho, que lhe fizera a vida um inferno, embebedando-se com genebra a ponto que não lhe paravam hóspedes em casa. Mas estava agora mais tranquila: o pobre Joãozinho havia dias jurara-lhe pela alma da mamã que daí por diante não beberia senão gasosa. Enquanto ao tal João Eduardo, perguntara na vizinhança e ao Sr. Palma do Ministério das Obras Públicas, que conhecia toda a gente, mas nada averiguara. Havia, sim, um Joaquim Eduardo que tinha uma loja de quinquilharias no bairro... E se fosse o negócio com ele bem ia, que era um homem de bem...

- Lérias! lérias! interrompeu o cónego impaciente.

Resolveu-se ele então a escrever. E instado pelo padre Amaro (que não cessava de lhe representar o que a S. Joaneira e ele mesmo, cónego Dias, sofreriam com o escândalo) chegou a autorizar ao seu amigo da capital as despesas necessárias para empregar a polícia. A resposta demorou- se, mas veio enfim, prometedora e magnifica! O hábil polícia Mendes descobrira João Eduardo! Somente não lhe sabia ainda a morada, avistara-o apenas num café; mas em dois ou três dias o amigo Mendes prometia informações precisas.

O desespero dos dois sacerdotes, porém, foi grande quando, daí a dias, o amigo do cónego escreveu que o indivíduo, que o hábil polícia Mendes tomara por João Eduardo, num café da Baixa, sobre sinais incompletos, era um moço de Santo Tirso que estava na capital a fazer concurso para delegado...





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