O Crime do Padre Amaro - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 358 / 478

Ela soluçava, num pranto nervoso, - e toda a manhã foi no quarto do sineiro um delírio de amor a que aquele sentimento da maternidade, ligando-os como um sacramento, dava uma ternura maior, um renascimento incessante de desejo, que os lançava cada vez mais ávidos nos braços um do outro.

Esqueceram as horas; e Amélia só se decidiu a saltar do leito quando ouviram em baixo na cozinha a muleta do tio Esguelhas.

Enquanto ela se arranjava à pressa diante do bocado de espelho que ornava a parede, Amaro diante dela contemplava-a com melancolia, vendo-a passar o pente nos cabelos - nos cabelos que ele dentro em breve não tornaria a ver pentear; deu um grande suspiro, disse-lhe enternecido:

- Estão a acabar os nossos bons dias, Amélia. És tu que queres... Hás-de te lembrar algumas vezes destas boas manhãs...

- Não diga isso! fez ela com os olhos arrasados de água.

E atirando-se-lhe de repente ao pescoço, com a antiga paixão dos tempos felizes, murmurou-lhe:

- Hei-de ser sempre a mesma para ti... Mesmo depois de casada.

Amaro agarrou-lhe as mãos sofregamente:

- Juras?

- Juro.

- Pela hóstia sagrada?

- Juro pela hóstia sagrada, juro por Nossa Senhora!

- Sempre que tenhas ocasião?

- Sempre!

- Oh, Ameliazinha! oh, filha! não te trocava por uma rainha!

Ela desceu. O pároco, dando uma arranjadela ao leito, ouvia-a em baixo falar tranquilamente com o tio Esguelhas; e dizia consigo que era uma grande rapariga, capaz de enganar o diabo, e que havia de fazer andar numa roda-viva o pateta do escrevente.

Aquele "pacto", como lhe chamava o padre Amaro, tornou-se entre eles tão irrevogável que já lhe discutiam tranquilamente os detalhes.





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