Amaro teve um gesto desesperado de impaciência. Susto! Não estava má hipocrisia! Susto de quê? Com uma mãe que era uma babosa, que lhe consentia tudo... O que era, era que queria casar... Queria outro! Não lhe agradava aquele divertimento pela manhã, de fugida... Queria a coisa comodamente, em casa. Imaginava a menina que o iludia a ele, um homem de trinta anos e quatro anos de experiência de confissão? Via bem através dela... Era como as outras, queria mudar de homem.
Ela não respondia, muito pálida. E Amaro, furioso com o seu silêncio:
- Calas-te, está claro... Que hás-de tu dizer? Se é a verdade pura!... Depois dos meus sacrifícios... Depois do que tenho sofrido por ti... Aparece-te o outro, larga para o outro!
Ela ergueu-se, e batendo o pé, desesperada:
- Foste tu que quiseste, Amaro!
- Pudera! Se imaginas que me havia de perder por tua causal Está claro que quis!... - E olhando-a de alto, fazendo-lhe sentir um desprezo de alma muito reta; - Mas nem vergonha tens de mostrar a alegria, o furor de ir para o homem!... És uma desavergonhada, é o que é...
Ela, sem uma palavra, branca como a cal, agarrou o mantelete para sair.
Amaro, exasperado, segurou-a violentamente pelo braço:
- Para onde vais? Olha bem para mim. És uma desavergonhada... Estou-te a dizer. Estás morta por dormir com o outro...
- Pois acabou, estou! disse ela.
Amaro, perdido, atirou-lhe uma bofetada.
- Não me mates! gritou ela. É o teu filho!
Ele ficou diante dela, enleado e trêmulo: àquela palavra, àquela ideia do seu filho, uma piedade, um amor desesperado revolveu todo o seu ser: e arremessando-se sobre ela, num abraço que a esmagava, como querendo sepultá-la no peito, absorvê-la toda só para si, atirando-lhe beijos furiosos que a magoavam, pela face e pelos cabelos:
- Perdoa, murmurava, perdoa, minha Ameliazinha! Perdoa, que estou doido!