O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 40 / 478

- Está na província agora? perguntou ela, bocejando um pouco.

- Sim, minha senhora, vim há dias.

- Na aldeia? continuou ela, abrindo e cerrando vagarosamente o seu leque.

Amaro via pedras preciosas reluzirem nos seus dedos finos; disse, acariciando o cabo do guarda-sol:

- Na serra, minha senhora.

- Imagina tu, acudiu a condessa, é um horror! Há sempre neve, diz que a igreja não tem telhado, são tudo pastores. Uma desgraça! Eu pedi ao ministro a ver se o mudávamos. Pede-lhe tu também...

- O quê? disse Teresa.

A condessa contou que Amaro requerera para uma paróquia melhor. Falou de sua mãe, da amizade que ela tinha a Amaro...

- Morria-se por ele. Ora um nome que ela lhe dava... Não se lembra?

- Não sei, minha senhora.

- Frei Maleitas!... Tem graça! Como o Sr. Amaro era amarelito, sempre metido na capela...

Mas Teresa, dirigindo-se à condessa:

- Sabes com quem se parece este senhor?

A condessa afirmou-se, o rapaz rechonchudo fincou a luneta.

- Não se parece com aquele pianista do ano passado? continuou Teresa. Não me lembra agora o nome...

- Bem sei, o Jalette, disse a condessa. - Bastante. No cabelo, não.

- Está visto, o outro não tinha coroa!

Amaro fez-se escarlate. Teresa ergueu-se arrastando a sua soberba cauda, sentou-se ao piano.

- Sabe música? perguntou, voltando-se para Amaro.

- A gente aprende no seminário, minha senhora.

Ela correu a mão, um momento, sobre o teclado de sonoridades profundas, e tocou a frase do Rigoleto, parecida com o Minuete de Mozart, que diz Francisco I, despedindo-se, no sarau do primeiro ato, da senhora de Crécy, - e cujo ritmo desolado tem a abandonada tristeza de amores que findam, e de braços que se desenlaçam em despedidas supremas.





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