O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 41 / 478

Amaro estava enlevado. Aquela sala rica com as suas alvuras de nuvem, o piano apaixonado, o colo de Teresa que ele via sob a negra transparência da gaze, as suas tranças de deusa, os tranquilos arvoredos de jardim fidalgo davam-lhe vagamente a ideia duma existência superior, de romance, passada sobre alcatifas preciosas, em coupés acolchoados, com árias de óperas, melancolias de bom gosto e amores dum gozo raro. Enterrado na elasticidade da causeuse, sentindo a música chorar aristocraticamente, lembrava-lhe a sala de jantar da tia e o seu cheiro de refogado: e era como o mendigo que prova um creme fino, e, assustado, demora o seu prazer - pensando que vai voltar à dureza das côdeas secas e à poeira dos caminhos.

No entanto Teresa, mudando bruscamente de melodia, cantou a antiga ária inglesa de Haydn, que diz tão finamente as melancolias da separação:

The village seems dead and asleep

When Lubin is away!...

- Bravo! bravo! exclamou o ministro da Justiça, aparecendo à porta, batendo docemente as palmas. Muito bem, muito bem! Deliciosamente!

- Tenho um pedido a fazer-lhe, Sr. Correia, disse Teresa erguendo- se logo.

O ministro veio, com uma pressa galante:

- Que é, minha senhora? que é?

O conde e o sujeito de magníficas suíças tinham entrado discutindo ainda.

- A Joana e eu temos que lhe pedir, disse Teresa ao ministro.

- Eu já pedi! já pedi mesmo duas vezes! acudiu a condessa.

- Mas, minhas senhoras, disse o ministro, sentando-se confortavelmente, com as pernas muito estiradas, a face satisfeita: de que se trata? É uma coisa grave? meu Deus! prometo, prometo solenemente...

- Bem, disse Teresa, batendo-lhe com o leque no braço. Então qual é a melhor paróquia vaga?





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