O Crime do Padre Amaro - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 43 / 478

- É negócio feito, disse-lhe ele. O Correia entende-se com o bispo. Daqui a uma semana está nomeado. Pode ir descansado.

Amaro fez uma cortesia, e, servil, foi dizer ao ministro que estava junto do piano:

- Senhor ministro, eu agradeço...

- à senhora condessa, à senhora condessa, disse o ministro sorrindo.

- Minha senhora, eu agradeço, veio ele dizer à condessa, todo curvado.

- Ai, agradeça a Teresa. Ela quer ganhar indulgências, parece.

- Lembre-me nas suas orações, Sr. padre Amaro, disse ela. E continuou, com a sua voz magoada, dizendo ao piano - as tristezas da aldeia quando Lubin está ausente!

Amaro daí a uma semana soube o seu despacho. Mas não tomara a esquecer aquela manhã em casa da Sra. condessa de Ribamar, - o ministro de calças muito curtas, enterrado na poltrona, prometendo o seu despacho; a luz clara e calma do jardim entrevisto; o rapaz alto e louro que dizia yes... Cantava-lhe sempre no cérebro aquela ária triste do Rigoleto: e perseguia-o a brancura dos braços de Teresa, sob a gaze negra! Instintivamente via-os enlaçarem-se devagar, devagar, em torno do pescoço airoso do rapaz louro: detestava-o então, e a língua bárbara que falava, e a terra herética de onde viera: e latejavam-lhe as fontes à ideia de que um dia pode- ria confessar aquela mulher divina, e sentir o seu vestido de seda preta roçar pela sua batina de lustrina velha, na escura intimidade do confessionário.

Um dia, ao amanhecer, depois de grandes abraços da tia, partiu para Santa Apolônia, com um galego que lhe levava o baú.





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