O Crime do Padre Amaro - Cap. 23: Capítulo 23 Pág. 438 / 478

Foi necessário abrir ao Libaninho, apertar-lhe a mão, oferecer-lhe uma cadeira. Mas o Libaninho felizmente não se podia demorar. Passara na rua, e subira a saber se o amigo pároco tinha noticia daquelas santinhas da Ricoça.

- Vão bem, vão bem, disse Amaro que obrigava a face a sorrir, a prazentear.

- Eu não tenho podido ir lá, que tenho andado mais ocupado!... Estou de serviço no quartel... Não te rias, parocozinho, que estou lá fazendo muita virtude... Meto-me com os soldadinhos, falo-lhes das chagas de Cristo...

- Andas a converter o regimento, disse Amaro que mexia nos papéis da mesa, passeava, numa inquietação de animal preso.

- Não é para as minhas forças, pároco, que se eu pudesse!... Olha, agora vou eu levar a um sargento uns bentinhos... Foram benzidos pelo Saldanhinha, vão cheios de virtude. Ontem dei outros iguais a um anspeçada, perfeito rapaz, um amor de rapaz. Pus-lhos eu mesmo por baixo da camisola. Perfeito rapaz!...

- Devias deixar esses cuidados pelo regimento ao coronel, disse Amaro abrindo a janela, abafando de impaciência.

- Credo, olha o ímpio! Se o deixassem desbatizava o regimento. Pois adeus, parocozinho. Estás amarelinho, filho... Precisas purga, eu sei o que isso é.

Ia a sair, mas à porta, parando:

- Ai, dize cá, parocozinho, dize cá: tu ouviste alguma coisa?

- De quê?

- Foi o padre Saldanha que mo disse. Diz que o nosso chantre declarara (palavras do Saldanhinha) que lhe constava que ia na cidade um escândalo com um senhor eclesiástico... Mas não disse quem nem o quê... O Saldanha qui-lo sondar, mas o chantre diz que recebera só uma denúncia vaga, sem nome... Tenho estado a pensar: quem será?

- Pataratas do Saldanha...

- Ai, filho ! Deus queira que sejam. Que quem folga, são os ímpios... Quando fores pela Ricoça dá recados àquelas santinhas...





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