O Crime do Padre Amaro - Cap. 25: Capítulo 25 Pág. 473 / 478

O padre Amaro riu também: e durante um momento os dois sacerdotes pararam, apertando as ilhargas.

- Pois é verdade, disse o cónego. A coisa tinha sido realmente escandalosa... Porque enfim, repare o amigo que o pilharam com o sargento, de tal modo que não havia a duvidar... E às dez horas da noite, na alameda! Já é imprudência... Mas enfim a coisa esqueceu, e quando o Matias morreu, lá lhe demos o lugar de sacristão, que é bem boa posta... Muito melhor que o que ele tinha no cartório... E há-de cumprir com zelo!

- Há-de cumprir com zelo, concordou muito sério o padre Amaro. E a propósito, a D. Maria da Assunção?

- Homem, rosnam-se coisas... Criado novo. Um carpinteiro que morava defronte... O rapaz anda no trinque.

- Palavra?

- No trinque. Charuto, relógio, luva! Tem pilhéria, hem?

- É divino!

- As Gansosos na mesma, continuou o cónego. Têm agora a sua criada, a Escolástica.

- E da besta do João Eduardo?

- Eu mandei-lhe dizer, não? Lá está ainda nos Poiais. O Morgado está mal do fígado! E o João Eduardo diz que está tísico... que eu não sei, nunca mais o vi... Quem mo disse foi o Ferrão.

- Como vai ele, o Ferrão?

- Bem. Sabe quem eu vi há dias? A Dionísia.

- E então?

O cónego disse uma palavra baixo ao ouvido do padre Amaro.

- Deveras, padre-mestre?

- Na Rua das Sousas, a dois passos da sua antiga casa. O D. Luís da Barrosa é que lhe deu o dinheiro para montar o estabelecimento. Pois aqui estão as novidades. E você está mais forte, homem! Fez-lhe bem a mudança...

E pondo-se diante, galhofando:

- Ó Amaro, e você a escrever-me que queria retirar-se para a serra, ir para um convento, passar a vida em penitência.

O padre Amaro encolheu os ombros:

- Que quer você, padre-mestre?... Naqueles primeiros momentos... Olhe que me custou! Mas tudo passa...





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